Um blog in natura

Amigo Leitor, este blog é escrito ipse litere sem revisão gramatical e de sintaxe. O objetivo de meu blog é escrever in natura, na medida na qual desenvolvo o pensamento, o meu insight primeiro. Após escrever realizo a postagem imediata e não releio mais o artigo e só acesso o blog para a próxima postagem. O Blog é um "diário" e não seria esta a filosofia de um diário? Por este motivo há diferenças, acentuadas, nas versões do artigos aqui postados e os mesmos na Mídia. Aqui não há revisão seja gramatical ou ideológica. Sugiro desta maneira que se detenha no desenvolvimento da linha do pensamento exposto. Comente, debata e opine! Idéias se combatem com Idéias melhores......

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A UNIÃO, LEI DAS FAMÍLIAS, É TAMBÉM A LEI DOS ESTADOS

"Multiplicai-vos — disse o Senhor à primeira família — enchei a terra e submetei-a". Ao se multiplicarem, os homens só puderam submeter ao seu império a terra — isto é, o solo e as forças da natureza, as plantas e os animais — conservando entre si a união. O homem isolado não pode nada. A associação conseguiu fazer tudo o que nós vemos. Foi ela que produziu todas as riquezas que a civilização possui atualmente. Tudo saiu do trabalho dos homens associados no espaço e no tempo.

Sem união não é possível a associação, ou se a associação tenta formar-se, não tarda a dissolver-se. É a união que faz um conjunto manter-se e formar um todo. A partir do momento em que ela é quebrada, a sociedade cai em ruínas. Não nos espantamos com a anarquia em que se debate nossa infeliz França, pois a Sabedoria divina advertiu para o que nos está acontecendo: "Todo reino divido contra si mesmo será destruído, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não poderá subsistir".

Ora, a união procede do amor. E portanto o amor é a primeira lei do mundo moral, como o seu correlativo, a atração, é a primeira lei do mundo físico. Um e outra possibilitam a unidade na infinita variedade das coisas. "Como os astros gravitam em suas órbitas porque são força e peso — diz Funck-Brentano, como conclusão de seus estudos sobre a civilização e suas leis —, o homem vive em sociedade porque ele é inteligência e amor".

O amor começa por unir o esposo à esposa, os pais aos filhos. Mas ao mesmo tempo ele amplia o círculo de sua ação. Pelos casamentos que os filhos contraem, o parentesco se estende e convida à afinidade, que não se contenta em unir as pessoas, mas as próprias famílias. "A chama sagrada da amizade — diz Jean Bodin — mostra seu primeiro ardor entre o marido e a mulher, depois dos pais em relação aos filhos e dos irmãos entre si, em seguida destes aos parentes mais próximos, e dos mais próximos aos aliados" (Livro III, capítulo VII).

Continuando a irradiar-se para longe de seu lar, a mesma chama sagrada cria essas unidades superiores que vimos tomarem os nomes de fratria, gens, mesnie, pátria, todos nomes que lembram sua origem familiar. A entidade social suprema, a nação, só é verdadeiramente viva e vigorosa enquanto conserva e mantém no seu seio o fogo sagrado, como era na antiga França.

A Revolução a extinguiu ao suprimir-lhe a fonte, isto é, a Família Real. Em lugar do amor, da união, só existe entre nós o antagonismo. À França compacta, magnífica de coesão entre suas províncias, de unidade nos sentimentos patrióticos de seus filhos, sucedeu uma tal desagregação dos homens e das coisas que hoje parecemos, aos olhos das outras nações, não ser mais que uma poeira que o vento das revoltas e das guerras pode dispersar em um instante.10

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10 - É bem isto o que se devia esperar, já que a França estava sem rei. A "Review of Review" (agosto de 1907, p. 120) fazia a seguinte observação: "Todo o sistema do nosso governo de partido tem como resultado aumentar e avivar, de alguma maneira, o que nos divide. Daí a imperiosa necessidade de encontrar, como corretivo e contrapeso, um órgão para exprimir e reforçar o que nos une. Eis a função que nosso monarca preenche tão nobremente. Ele reconduz às tarefas sobre as quais todos os homens de bem estão de acordo, mas das quais as disputas partidárias desviam facilmente. A Inglaterra e a Irlanda são, ao menos quanto ao seu rei, um reino unido".

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Como deter essa ruína? Não responderemos esta questão por nós mesmos. Tomaremos emprestada uma palavra estrangeira, de um homem que não é de raça francesa, embora unido a ela pela naturalização e pela conversão do judaísmo ao catolicismo. Parecerá assim mais isenta de preconceitos.

Ante o espetáculo das nossas divisões internas, ele pergunta: "Como voltar à necessária unidade? Só há um caminho: voltar ao princípio que constituiu a França no século V.

"A um povo lançado fora do seu caminho, arrancado às suas tradições e moribundo, só se pode devolver o sangue, a vida, o patriotismo, o entusiasmo, reconduzindo-o e vinculando-o novamente ao seu princípio.

"O princípio gerador da nação francesa, que é a monarquia cristã, foi subitamente substituído por outro princípio. Thiers, então chefe do poder executivo, indiscutivelmente o homem mais capaz de fazer triunfar esse novo princípio, propôs essa tentativa utilizando uma imagem à qual não faltava grandeza e sedução. Ele comparou a república, cujo simples nome já era um espantalho para muitos, àquele Cabo das Tormentas, no sul da África, tão famoso devido a tantos naufrágios, do qual durante muito tempo os navios não ousavam aproximar-se. Mas apareceu um navegador mais ousado e confiante que os outros. Trocando o nome do terrível cabo por outro de melhor augúrio — o Cabo da Boa Esperança — ele ousou tentar transpô-lo, e a empresa foi coroada de êxito. O Cabo das Tormentas se transformou em Cabo da Boa Esperança. O hábil e espirituoso velhinho concluiu: ‘Ousemos, senhores, tentar uma nova experiência da república, pois o que foi ontem o Cabo das Tormentas talvez se torne igualmente amanhã o Cabo da Boa Esperança’.

"Doze anos se passaram [hoje já são quarenta] com a experiência proposta. Aqueles que tinham interesse em acompanhar e dirigir o seu funcionamento e caminhada, acabaram tornando-se não só senhores, mas senhores absolutos da França. Não lhes faltou nada do que pode conduzir ao êxito: poder, riqueza, espada, palavra, audácia, aclamações, devotamento e abnegação de muitos. E aqui estamos, após doze anos [quarenta anos] ininterruptos de tentativas, em presença de uma França toda fracionada, mais parecendo, em suas divisões, um navio cujas tábuas se descolam e se destacam (a expressão é de Gambetta) do que um povo de irmãos. Contemplamos estupefatos a religião expulsa da escola, a cruz arrancada dos cemitérios, os socorros espirituais recusados aos soldados e aos doentes, os religiosos expulsos e dispersos, as finanças esbanjadas, o exército desorganizado, a magistratura reduzida à servidão, a indústria insuficientemente protegida, a agricultura empobrecida e sem apoio, a propaganda anarquista tolerada, os funcionários cristãos destituídos ou desprotegidos. Em resumo: no interior, a França tiranizada pelo espírito partidário; no exterior, a França impotente e humilhada’.11 Em presença de um tal espetáculo, pode-se em consciência falar que o Cabo das Tormentas se tornou o Cabo da Boa Esperança?

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11 - Este quadro foi traçado a 20 de outubro de 1883, por G. de la Tour, no l’Univers. Quanta coisa se poderia aí acrescentar em 1910, e quanto poderiam ser enegrecidos os dados primitivos!

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"Não, a esperança está em outro lugar! Está num retorno nacional, necessário, ao princípio que, tendo feito a França, poderá refazê-la.

"Sim, é aí que se refugiou a esperança! Porque onde se encontra o princípio gerador da unidade, aí se encontra a renovação da pátria francesa!

"Com efeito, nada é tão forte, na história de um povo, quanto o princípio gerador que lhe deu origem. Nada é tão abençoado por Deus quanto manter a fidelidade a esse princípio. A nação judaica deu disso um memorável exemplo. Todos sabem que, na sucessão ilustre dos seus reis, houve um que, como filho degenerado de David, parece ter-se empenhado em merecer o título de vergonha e algoz do seu povo, tanto ele se mostrou ímpio e cruel. Foi Manassés, o Nero do povo hebreu. Ora, aconteceu que Deus, apiedando-se dos gemidos das vítimas, interveio por um golpe de justiça que repercute na História. Entregou o mau rei a Assurbanípal e aos seus assírios, que o prenderam e levaram cativo para Babilônia. Não teria sido o caso de aproveitar-se de um fato tão oportuno para modificar o governo hebraico, substituindo a dinastia, ou ao menos substituindo o rei ímpio e cativo pelo seu filho? Nada disso se fez. Fiel ao princípio gerador da sua nacionalidade, o povo hebreu não se julgou no direito de lhe modificar a essência, e se limitou a estabelecer um governo provisório. Depois de longos meses de duro cativeiro, que sofreu com lágrimas de arrependimento, Manassés foi libertado pela mão divina que o havia precipitado na prisão. Quando ele reapareceu em Jerusalém, seu trono o esperava intacto, e a fidelidade do seu povo não havia mudado!

"Então Deus, que é imutável, se aprouve em recompensar magnificamente tão admirável fidelidade, com dois acontecimentos particularmente providenciais. O primeiro foi a aparição de Judite, uma das heroínas judias. Como senhores do rei, os assírios se julgavam senhores do reino. Foi então que Judite, suscitada por Deus, lhes barrou a passagem. O segundo acontecimento, não menos providencial, foi a vinda de Josias ao trono de Davi. Neto e segundo sucessor de Manassés, Josias foi, sem dúvida, um dos melhores reis de Judá, uma de suas glórias mais puras, cujo elogio a Escritura faz deste modo: ‘A memória de Josias é como um perfume suave’.

"Eis o que pode em favor da unidade, e para o bem de um povo, a fidelidade ao princípio gerador da sua existência!

"Perseverança na oração, penitência e volta à unidade, tais são, segundo a Bíblia e no domínio da ordem moral, as três condições indicadas por Deus para remédio das nações.

"Praticando-as, a cura da França é moralmente certa. E se a cura se realizar, veremos reaparecer, com o retorno às práticas religiosas, o respeito a todos os direitos, a disseminação da honra, a prática da verdadeira liberdade, a nobre ambição da glória, a proteção dos fracos, a segurança do comércio, o elan da prosperidade, a procura da nossa aliança, em uma palavra, tudo o que contribuiu para tornar a França, durante séculos agora invejados, o mais belo reino depois do reino dos céus" (Pe. Augustin Lémann, "Dieu a Fait la France Guérissable").

Para que a coesão exista no corpo social e lhe dê vida e prosperidade, não basta que o amor una o soberano aos súditos e os súditos ao soberano. Ele deve unir os súditos entre si pelo devotamento das classes superiores às inferiores e o serviço das inferiores à superiores.

A antiguidade não desconheceu completamente este dever, ou ao menos se aproximou desta necessidade. Cícero diz que Rômulo deu aos senadores o nome de pais, para assinalar o afeto paternal que eles tinham pelo povo.

Sabe-se a posição que ocupou na organização de Roma a clientela. Esta instituição estabelecia relações determinadas e constantes entre certo número de pessoas do povo e uma gens patrícia. O chefe dessa gens, nas relações com os clientes, levava o nome de patron, para assinalar os sentimentos de paternidade em relação a eles. De seu lado, a qualificação de cliente marcava no seu portador uma disposição habitual de se manter pronto para o serviço (cluere, ouvir, ter o ouvido aberto). As obrigações recíprocas correspondiam às palavras. O patron tinha o dever, a obrigação de ajudar seu cliente com conselhos e crédito, de defendê-lo diante dos tribunais, de sustentá-lo com sua influência nos processos e litígios, até mesmo à mão armada, enfim de acudir às suas necessidades em caso de apuro. O cliente, de seu lado, devia ao patron o respeito, obsequium, e o devotamento pessoal, dando-lhe o voto nos comícios, armando-se e combatendo por ele, contribuindo para pagar seu resgate, para fazer o dote da sua filha, etc. Havia, em uma palavra, uma troca regular e contínua de serviços. Que houvesse ou não afeto sempre, do ponto de vista social o resultado era o mesmo.

A clientela desaparecera havia séculos, quando nasceu o feudalismo. Como por efeito de um instinto natural, ele se fundou sobre o mesmo princípio de assistência mútua. O suserano devia prestar socorro e proteção aos seus vassalos, como o pai aos seus filhos, assegurar-lhes a justiça, manter a ordem e a segurança no feudo, garantir aos necessitados a sua subsistência. Em troca, vassalos e rendeiros deviam fidelidade e assistência ao suserano na paz e na guerra, e também nas circunstâncias idênticas àquelas em que o cliente tinha deveres em relação ao patron — por exemplo, no casamento da filha do suserano.

"A experiência quotidiana que o homem tem, sobre a exigüidade das próprias forças — diz Leão XIII — o obriga e impele a obter cooperação alheia. É nas Sagradas Escrituras que se lê esta máxima: ‘Mais vale que dois estejam juntos do que estarem sós, pois se beneficiam de sua sociedade. Se um cai, o outro o levanta. Ai do homem só, porque quando ele cair não terá ninguém para levantá-lo’. E esta outra: ‘O irmão que é ajudado por seu irmão é como uma cidade fortificada’. Desta propensão natural nascem as sociedades" (Rerum novarum). Antes de escrever estas máximas nos seus Livros, Deus as havia gravado no coração do homem. É isto que explica como as instituições, repousando sobre os mesmos princípios, puderam nascer espontaneamente na antiguidade pagã, tanto quanto no seio do cristianismo.

Na França, desde a época merovíngea, vê-se um certo número de pequenos proprietários, chamados vassi, recomendarem-se a homens mais poderosos e mais ricos, chamados seniores. Ao seu senior, que lhe doa terras, o vassus promete assistência e fidelidade. Em meados do século IX, o movimento se precipita, e uma multidão de famílias suplica à família senhorial que as tome sob sua proteção: Defendei-nos, defendei a terra que possuímos e a que nos ireis conceder, e nós vos prestaremos todos os serviços de um fiel vassalo.

Foi no século XIII que esta organização social, baseada no devotamento e serviços recíprocos, atingiu seu apogeu. E foi também nessa época que a nação francesa atingiu seu mais alto grau de prosperidade, pôde exercer sobre todas as nações da Europa uma influência que nunca mais reencontrou.

A maior parte dos historiadores assinala que o regime feudal se estabeleceu em quase todos os povos da Europa, sem que nenhum deles o copiasse de outro. E ele se tornou tão sólido, que Le Play o encontrou ainda vivo nas planícies orientais da Rússia. Eis o que ele diz: "As relações da família com o senhor se baseiam ao mesmo tempo no respeito e na familiaridade que reinam entre os filhos e seu pai. Sua autoridade fornece ao camponês um ponto de apoio para a conservação da propriedade. O senhor exerce sua autoridade, como o fazia o suserano da Idade Média, para manter o regime da comunidade na família. Ele a protege contra a usura. O senhor concede ajuda à família em todas as circunstâncias em que seus meios de existência se acham comprometidos, por exemplo, em caso de incêndio, escassez, peste nos rebanhos e doenças epidêmicas. E o senhor pode contar com o trabalho dos camponeses para o êxito do seu próprio empreendimento".

Esse patronato, que se vê estabelecer-se sob formas muito diversas, em épocas tão distantes e em tantos lugares, é evidentemente saído da família, e é uma extensão do seu espírito. A prosperidade das famílias, já o dissemos, tem seu princípio na união, proveniente da comunidade de afetos e esforços. É a visão dos efeitos benéficos que esta união produziu, que levou a ampliá-la além dos limites da família, e que fez nascer a clientela entre os romanos e o feudalismo entre nós. Da família embrionária, se assim se pode dizer, o espírito familiar se estendeu com o desenvolvimento que tomou a família patriarcal, e daí atingiu e animou a fratria, a gens, o feudo, e enfim as nações, que não podem, também elas, viver e prosperar senão na união e na comunidade dos esforços.

A Idade Média estava plenamente convencida disso. O espírito de patronato a penetrava tão perfeitamente, que ao mesmo tempo que ele produzia o feudalismo no meio rural, criava nas cidades as mesnies urbanas, e depois estabelecia entre as cidades vizinhas as linhagens das cidades francesas, os paraiges das cidades lorenas, as geslachten das cidades flamengas, etc, nomes todos esses suficientes para mostrar o princípio de onde esses grupos saíram, o espírito que lhes deu nascimento, pois todas estas palavras são originárias do vocabulário da família. Cada um desses grupos tinha uma organização comum, com caráter ao mesmo tempo familiar e militar, como o grupo feudal.

É necessário conhecer estes fatos, se se quer avaliar com exatidão o mal que corrói a sociedade atual e o remédio que se lhe deve dar.

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