Um blog in natura

Amigo Leitor, este blog é escrito ipse litere sem revisão gramatical e de sintaxe. O objetivo de meu blog é escrever in natura, na medida na qual desenvolvo o pensamento, o meu insight primeiro. Após escrever realizo a postagem imediata e não releio mais o artigo e só acesso o blog para a próxima postagem. O Blog é um "diário" e não seria esta a filosofia de um diário? Por este motivo há diferenças, acentuadas, nas versões do artigos aqui postados e os mesmos na Mídia. Aqui não há revisão seja gramatical ou ideológica. Sugiro desta maneira que se detenha no desenvolvimento da linha do pensamento exposto. Comente, debata e opine! Idéias se combatem com Idéias melhores......

Anjos e Demônios


Uma imagem que me lembro, vinda de publicações antigas resume a dignidade e os perigos de ser humano: um anjo cochicha numa orelha do menino, e um demônio na outra. Este último intima o menino a roubar uma maçã, e o primeiro a não fazê-lo. Mas a imagem não é sobre maçãs. Ela é sobre valor e dignidade: o Céu e o Inferno competem por minha alma e a decisão é minha.
Logo as tentações envolvem mais do que maçãs, e logo a pessoa começa a pensar se não deveria relegar o anjo e o diabo ao reino dos ultrapassados brinquedos infantis e Papai Noel. Mas, se a pessoa quer permanecer católica, não pode simplesmente descartar toda a crença no Inimigo do homem que tormentou Jó, ou nos demônios que Cristo expeliu, e nas expulsões para as quais a Igreja ainda treina exorcistas. Entretanto, poucos querem admitir que eles acreditam que meninas possuídas sejam mais que uma invenção de Hollywood. Especialmente na faculdade, onde até a crença em Deus é admitida cautelosamente, a pessoa fica tentada (pelo próprio “tinhoso”?) a tratar o demo como uma “ficção real” no sentido de uma “projeção” – real da mesma forma que as ilusões são reais – e transformar Cristo em um poeta.
Mas fazer tal coisa representa não só virar as costas aos ensinamentos da Igreja, mas também arriscar o valor e a dignidade humana. Ao invés da alma eterna pela qual os Poderes competem, a pessoa se transforma em um organismo assaltado por tiques neurológicos tão sem sentido como os germes. Naturalmente o desejo por valor e dignidade pode por outro lado se transformar em um motivo para a projeção de demônios. Mas então, Satã ficaria feliz se nós assim o considerássemos. Ou pelo menos eu acho que este é o caso. Mas a criança que eu fui achava que tudo era bem real, e nada no mundo empírico e poético me convence que eu estava errado. De fato, a gente lê sobre assassinatos sadísticos que, como o Holocausto, nos fazem pensar em como uma pessoa poderia imaginar tal maldade sem ajuda. De qualquer maneira, até que eu seja compelido a mudar de idéia, eu continuarei a achar que aquela criança que fui estava certa. Apesar de toda sua inocência, ele sabia das coisas realmente grandes.
O mundo da criança é profundamente pessoal e proposital. Egocêntricas, as crianças bem jovens podem reconhecer somente uma personalidade no mundo, e imaginam que seus pais existem somente para satisfazer as suas necessidades. Mas elas superam esta fase a uma certa altura, em parte porque elas querem atribuir tudo o que acontece com eles a um propósito: por que eu tenho que ir a escola? E pensar num propósito agindo através de você é reconhecer um ser com propósito, uma personalidade. Aquelas personalidades podem até ser convenientes: eu não quebrei o vaso, o Tommy foi quem quebrou. Mesmo que a gente aprenda cedo que pegar varicela, digamos, não pode ser atribuído à vontade de alguém, a procura de propósito continua sendo a posição que tomamos quando uma situação nova nos confronta. As crianças não se surpreendem ao saber que Deus criou o mundo. Alguém tinha que fazê-lo.
Então, quem me fez roubar a maçã? Se o Tommy não é um candidato convincente, então o Demônio é, assim que aprendemos qual é o negócio dele. Mas, “o Diabo me fez fazer isto” não é uma desculpa que livra os Católicos da responsabilidade porque o roubo da maçã foi uma escolha, e ninguém pode fazer você escolher. O Diabo talvez ainda tenha uma parte, oferecendo racionalizações para aquilo que nossos apetites recomendam. Assim como a boa freira nos avisou, Satã sabe as nossas fraquezas melhor do que nós mesmos, e joga com elas. Por isto é que nós rezamos, depois de cada missa, que São Miguel o arcanjo “atire no inferno Satã e todos os espíritos maus que vagam pelo mundo procurando fazer a perdição das almas.” Mas você continua responsável pela própria ruína mesmo em circunstâncias feitas mais difíceis pelos tentadores infernais. Se esta é uma carga adicional, ela também é uma forma de honra.
Não importa se a sua família é pobre, se você é burro em matemática, se você não é popular com as pessoas, você tem um valor eterno pelo qual as forças da luz e das trevas competem. Não importa se você é rico, inteligente, ou popular, você terá que responder pelas escolhas que fizer. A imagem de um anjo e de um demônio cochichando no seu ouvido reforça a mensagem central do Cristianismo que Deus valoriza você acima de qualquer coisa, e que redimiu você através da paixão de seu Filho, oferecendo mas não impondo a vida eterna.
Qualquer estudante em uma escola católica que tenha permanecido acordado já tinha absorvido tudo isto lá pela segunda ou terceira série – a chamada “idade da razão.” Mas entender os efeitos do que isto significa não é fácil.
Em algumas maneiras, tudo isto não fazia a mínima diferença. Os meninos católicos pareciam tão cruéis ou decentes uns com os outros, honestos ou não na sua tarefa de casa, de dedos leves ou não no balcão de doces, como nossos vizinhos protestantes ou judeus. Mas nós vivíamos nossos pecados e virtudes em um mundo cheio de significados, um em que o pecado e a virtude, demônios e anjos, eram tão reais como o Chevrolet da família. E depois? Este treinamento na infância fez alguma diferença na nossa vida adulta? Eu acho que sim, fez uma diferença. Os psicólogos logicamente vêem a raiz de todos os tipos de coisas na infância, seguindo nesta maneira Platão e os jesuítas e todos que algum dia lidaram com a educação. Para alguns o efeito de uma educação católica foi uma forte rejeição da Igreja Católica, mas mesmo assim muitos deles não conseguiram se livrar completamente do catolicismo. Por isto [James] Joyce, quando lhe perguntaram se ele tinha se tornado um protestante, ele respondeu, “Eu perdi a minha fé, não a minha cabeça!” Ele simplesmente não podia imaginar a religião em nenhuma outra forma.
Peter Occhiogrosso, na “Introit” (!) de seu livro Uma vez um católico, menciona que Gary Wills disse que “ele podia dizer que o Senador Eugene McCarthy era católico só em conversar com ele uns poucos minutos, mesmo sem discutir teologia.” Occhiogrosso diz mais, que, “uma marca indelével parece ter sido impressa na maioria dos católicos – não importando se eles continuam ou não a ser praticantes.” Eu acho que uma grande parte daquilo que continua impresso nos católicos é a memória do valor eterno que todos devemos ter, e da maldade proposital que o destrói. Se o arcanjo não pôde manter Satã no inferno, talvez ele tenha triunfado de todas maneiras ao alistar o Demônio como catequista.