Um blog in natura

Amigo Leitor, este blog é escrito ipse litere sem revisão gramatical e de sintaxe. O objetivo de meu blog é escrever in natura, na medida na qual desenvolvo o pensamento, o meu insight primeiro. Após escrever realizo a postagem imediata e não releio mais o artigo e só acesso o blog para a próxima postagem. O Blog é um "diário" e não seria esta a filosofia de um diário? Por este motivo há diferenças, acentuadas, nas versões do artigos aqui postados e os mesmos na Mídia. Aqui não há revisão seja gramatical ou ideológica. Sugiro desta maneira que se detenha no desenvolvimento da linha do pensamento exposto. Comente, debata e opine! Idéias se combatem com Idéias melhores......

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A Formação Ética do Estado!


A verdade social está no oposto da utopia democrática.

A utopia democrática é a igualdade. A democracia sonha com um Estado social que só se preocupa com os indivíduos, e indivíduos socialmente iguais.

Não é isto o que estava nos planos de Deus. E para nos convencermos, basta considerar o que Ele fez.

Deus poderia ter criado cada homem, como o fez com Adão, diretamente e sem auxílio de ninguém. Ele fez assim com os anjos, e no entanto, mesmo neste caso, não quis a igualdade! Ele criou cada anjo como uma espécie distinta e correspondendo a uma idéia particular. Tais idéias realizadas, criou-as em seres hierarquizados, como elas o eram no pensamento divino.

Formando o gênero humano uma espécie única, a igualdade teria aí reinado se todos tivéssemos recebido a existência diretamente das mãos do Criador. Mas Deus tinha outros desígnios. Ele quis que recebêssemos a vida uns dos outros, e que por esse meio nós fôssemos constituídos, não na liberdade e igualdade sociais, mas na dependência de nossos pais e na hierarquia que devia nascer dessa dependência.1

__________

1 - Cada anjo constitui sozinho uma espécie distinta das demais. Já a espécie humana parte da unidade, se decompõe em pessoas e se recompõe em famílias e em nações, pelo parentesco e afinidade.

"Uma nação é um conjunto de indivíduos descendentes de diferentes raças, mas unidos pelos vínculos complexos da família, e cujos ancestrais atuaram uns sobre os outros, submetidos a seleções comuns. Ela compreende os vivos, os mortos ainda mais numerosos, e a posteridade até o fim dos séculos, porque a nação, tende necessariamente à eternidade e à universalidade, isto é, a permanecer sozinha e cobrir o Globo inteiro com a sua descendência.

"A nação que começa a se formar compreende raças diversas, em proporções diferentes e distribuídas de uma certa maneira na hierarquia social. Desses indivíduos resulta pouco a pouco um grupo mais compacto. De geração em geração as linhagens se conjugam, se ramificam e se conjugam novamente ao infinito. A comunidade de substrato se estabelece em toda a massa, e não há nenhum que não seja um pouco parente de todos.

"Por exemplo, após quinze séculos de existência da França, isto é, depois de quarenta e cinco gerações, o número teórico dos ancestrais de cada contemporâneo é prodigioso, e o dos parentes colaterais é inconcebível. A partir da vigésima geração, isto é, depois do ano 1.200, o número dos ancestrais de cada indivíduo atingirá mais de dois milhões, dos quais a metade corresponde a essa vigésima geração. Na quadragésima quinta chega-se a sessenta bilhões aproximadamente, dos quais a metade representa os ancestrais em quadragésimo quinto grau. Estes números impossíveis provam a prodigiosa repetição das mesmas pessoas nas diversas linhagens do mesmo indivíduo, e a mais prodigiosa quantidade de famílias das quais ele descende. E se levarmos em conta os parentes em linha colateral, através de cada um de seus ancestrais, os números se tornam tão elevados, a ponto de nada mais significarem, e nem se pode mais compará-los!

"Ora, esse entrelaçamento infinito da parentela, que é a obra executada por gerações, se estendeu no espaço apenas a certos limites. O parentesco é muito grande entre indivíduos da mesma região, menor fora dela, e muito tênue em relação aos estrangeiros. As barreiras políticas, crescentes à medida que se aproxima da fronteira da nação, impedem tais vínculos de se estabelecerem.

"A nação pode ser vista assim como uma imensa família complexa, limitada pelas fronteiras. Os vivos são solidários ao mesmo tempo com os mortos e com os que vierem a nascer. Seguramente a maioria desses vínculos são infinitamente tênues, ameaçados sem cessar ou quebrados pelo trabalho da reversão, mas tão entrecruzados que a trama permanece forte no espaço e no tempo" (Vacher de Lapouge, L’Aryen, Son Rôle social. Paris, 1899, p. 366-367).

——————————

Deus criou Adão, e depois tirou do corpo dele a carne da qual fez o corpo de Eva. Abençoou então o homem e a mulher, e lhes disse: "Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei e dominai a terra".

Deus criou assim a família, transformou-a numa sociedade e a constituiu de acordo com um plano totalmente diverso da igualdade social: a mulher submissa ao homem e os filhos submissos aos pais.

Nas próprias origens do gênero humano, portanto, nós encontramos as três grandes leis sociais: a autoridade, a hierarquia e a união. A autoridade, que pertence aos autores da vida; a hierarquia, que torna o homem superior à mulher e os pais superiores aos filhos; e a união, que devem conservar entre si aqueles que o mesmo sangue vivifica.

Os Estados são originários dessa sociedade primeira.

"A família — diz Cícero — é o princípio da cidade, e de alguma forma a semente da res publica. A família se divide, embora permanecendo unida; os irmãos, bem como seus filhos e netos, não podendo mais abrigar-se na casa paterna, saem para fundar casas novas, como novas colônias. Eles formam alianças, donde surgem novas afinidades e o crescimento da família. Pouco a pouco as casas se multiplicam, tudo cresce, tudo se desenvolve, e nasce a res publica (República, livro I, 7).

Na sua obra "Les Six Livres de la République", Bodin (século XVI) consagra o capítulo VII do livro III a mostrar "como os corpos sociais e as comunidades se originaram da família". E Savigny, no seu "Traité du Droit Romain", também afirma: "As famílias formam o germe do Estado".

Tais são propriamente as origens do povo de Deus. No início Abraão funda uma família nova, e dela surgem doze tribos que vêm a constituir um povo.

O mesmo aconteceu com os gentios.

Fustel de Coulanges, no seu célebre livro "A Cidade Antiga", demonstrou que nas ilhas gregas, como também na Itália dos romanos, o Estado nasceu do lar doméstico. A fratria dos gregos (sociedade de irmãos), como a gens dos romanos (sociedade das famílias formadas a partir do mesmo tronco), eram apenas uma família mais ampliada reunida sob um mesmo chefe, que em Roma tinha o nome de pai, pater, e em Atenas o de eupátrida, pai bom.

Na origem das civilizações assíria, egípcia e outras encontram-se também uma ou algumas famílias que se desenvolvem, e em torno das quais outras vêm se agrupar para formar a tribo, e depois as tribos se aglutinam para formar as nações.

A fratria dos gregos e a gens dos romanos não eram, como as palavras dão a entender, uma associação de famílias. Era a própria família, reunindo em um feixe todas as famílias brotadas do seu tronco, e que já haviam atingido pela força das tradições, através das gerações sucessivas, um desenvolvimento que a tornava um grupo social numeroso. Isso não impedia um certo número de famílias estrangeiras de vir se colocar sob a proteção dessas famílias principais, tornar-se suas clientes e entrar por adesão na fratria ou na gens. "Vê-se por aí — diz Fustel de Coulanges — que a família dos tempos mais antigos, com seu ramo primogênito e os seus ramos cadetes, seus servidores e seus clientes, podia formar, com o passar do tempo, uma sociedade muito ampla". A unidade era mantida pela autoridade do chefe hereditário do ramo primogênito.

Nos primeiros tempos da civilização helênica, algumas famílias importantes dividiram entre si o país e o governo. Seus chefes tinham o nome de reis, que eram agricultores. Ulisses, rei de Ítaca, se gabava de ceifar a erva, de sulcar os campos. Seus filhos preparavam a lixívia às bordas do mar Jônico. Relações muito íntimas unem esses chefes aos que os circundam.

É de um número indefinido de sociedades dessa natureza que a raça ariana parece ter-se formado, durante uma longa seqüência de séculos.

Vemos os grupos sociais se formarem da mesma maneira, nas origens do nosso mundo moderno.

Entre nós, a família que se ampliava formou a mesnie2, como formara a fratria entre os gregos e a gens entre os romanos. Diz Flach, em "Les Origines de l’Ancienne France": "Os parentes, agrupados em torno do seu chefe, formam o núcleo de uma associação ampliada, a mesnie. Os textos da Idade Média, as crônicas e canções de gesta nos mostram a mesnie, ampliada pelo patronato e a clientela, como correspondendo exatamente à gens dos romanos". Flach mostra como em seguida a mesnie, desenvolvendo-se também, produziu o feudo, família mais extensa da qual o suserano é ainda o pai, se bem que o termo família seja encontrado freqüentemente, nos textos dos séculos XII e XIII (época em que o regime feudal teve sua plena expansão), designando o conjunto das pessoas reunidas sob a suserania de um chefe feudal.

__________

2 - Mesnie, magnie, maison: Casa, família, como se diz ainda hoje "a casa de França".

——————————

Diz Flach: "O barão é, antes de tudo, um chefe de família". E cita textos em que o pai é identificado expressamente com o barão, e o filho com o vassalo. "Uma extensão maior faz surgir o alto barão". Do pequeno feudo surge o grande feudo. A aglomeração dos grandes feudos formará os reinos.

É assim que se formou nossa França, e a língua o comprova tanto quanto a História. O conjunto das pessoas sob a autoridade do pai de família se chama família. A partir do século X, o conjunto das pessoas reunidas sob a autoridade do senhor, chefe da mesnie, chama-se família. O conjunto das pessoas reunidas sob a autoridade do barão, chefe do feudo, chama-se família. E veremos que o conjunto das famílias francesas foi governado como uma família.

O território sobre o qual se exerciam essas diversas autoridades, quer se tratasse do chefe de família, do chefe da mesnie, do barão feudal ou do rei, era denominado da mesma forma nos documentos: pátria, o domínio do pai. "A pátria — diz Funck-Brentano — foi na sua origem o território da família, a terra do pai. O uso da palavra se estendeu à terra senhorial e ao reino inteiro, em que o rei era o pai do povo. O conjunto dos territórios sobre os quais se exercia a autoridade do rei se chamava pátria.

"Um domínio senhorial — escreve Seignobos — é um Estado em miniatura, com seu exército, seu tribunal, seus costumes, seu grupo que constitui a ordenança do senhor. Mais do que outros países, a França estava, sobretudo no século X, dividida em soberanias desse gênero. Não se fez ainda o levantamento, mas certamente atingia uma dezena de milhares".

Em 989, um desses barões feudais, que encarnava da maneira mais completa e poderosa as características que marcavam cada um deles, foi elevado ao cume do grupo social, pelo próprio impulso do movimento que impelia a França à organização das suas forças vivas: Hugo Capeto se tornou rei. Por intermédio do barão feudal, a realeza surgiu da autoridade que o pai de família exercia.

Por toda parte, portanto, a civilização começou pela família. Aqui e ali nascem homens nos quais se desenvolvem e atuam mais poderosamente o amor paterno e o desejo de se perpetuar nos seus descendentes. Eles se dedicam ao trabalho com mais ardor, impõem aos seus apetites um freio mais contínuo e mais sólido, governam sua família com mais autoridade, inspiram-lhe costumes mais severos, que eles imprimem nos hábitos que a fazem contrair. Esses hábitos se transmitem pela educação, e se tornam tradições que mantêm as novas gerações na via aberta pelos ancestrais. A marcha nessa via conduz a família a uma situação cada vez mais alta. Ao mesmo tempo, a união que conservam entre si todos os ramos do tronco primitivo lhes dá uma pujança que cresce dia a dia, com o número que se multiplica e as riquezas que se acumulam pelo trabalho de todos.

Nessa situação eminente, esta família se torna o centro de atenção daquelas que a circundam. Estas lhe pedem abrigo e proteção, e em contrapartida prometem assistência. Entre eles há os que se sentem estimulados pela prosperidade que presenciam, e a ambicionam para si mesmos, deixando-se governar e instruir, esforçando-se por praticar as virtudes cujos exemplos e resultados eles têm diante dos olhos.

Tal é a origem histórica de todas as tribos. E a origem das nações é muito semelhante: as tribos se aglutinam como o fizeram as famílias, e sempre sob a influência de uma família principal. O contrato social, que um belo dia aproxima homens estranhos uns aos outros e os faz ligarem-se entre si por um pacto convencional, jamais existiu, a não ser na imaginação de Rousseau. E se os seus discípulos tentaram em algum lugar constituir-se em Estado desse modo, essa sociedade artificial não terá tardado a dissolver-se. Nada subsiste que não seja feito pela natureza e de acordo com suas leis. Tais leis, nós as vimos agir nas origens das civilizações grega e romana, como também nas origens da civilização moderna. Os missionários e os exploradores constatam-no entre os selvagens. Tanto entre eles como em qualquer outro lugar, só existe tribo onde há um começo de organização, e esta se mantém pela preeminência de uma família, à qual as outras são subordinadas.

Essa é a hierarquia na sua primeira formação, e a aristocracia no seu primeiro estágio.

No caso da França, em meio às ruínas acumuladas pelas invasões dos bárbaros não havia mais ordem, porque não havia mais autoridade. Sob a ação dos santos, várias famílias se ergueram, animadas pelos sentimentos que o cristianismo começava a difundir no mundo: Sentimentos de devotamento pelos pequenos e os fracos, sentimentos de concórdia e amor entre todos, sentimentos de reconhecimento e de fidelidade para com os protegidos. A hagiografia dessa época nos faz assistir por todo lado a esse espetáculo de famílias que se erguem desse modo acima das outras, pela força das suas virtudes.

Acima de todas se ergueu, no século X, a família de Hugo Capeto, que edificou a França pela paciência do seu espírito, pela perseverança do seu devotamento, pela continuidade dos seus serviços. É necessário acrescentar: "E pela vontade e a graça de Deus"3. Quando o Conde de Maistre ressaltou a frase da Sagrada Escritura "sou Eu que faço os reis", ele não deixou de acrescentar: "Isto não é uma metáfora, mas uma lei do mundo político. Ao pé da letra, Deus faz os reis. Ele prepara as raças reais, e as amadurece em meio a uma nuvem que esconde as suas origens. Assim elas aparecem coroadas de glória e honra".

__________

3 - Todas as monarquias cristãs da Europa — diz Dom Besse — são obras de uma família. A França deve sua existência política à família de Hugo Capeto. Hugo e seus pais haviam dado provas múltiplas do seu valor e da sua habilidade. Eles mereciam a confiança. Sob a proteção deles, as famílias gozavam da paz necessária para a sua conservação e o seu desenvolvimento. Um pacto foi estabelecido entre a casa capetíngea e as casas que tinham autoridade sobre as terras e os lares. Desse pacto se originou o núcleo primitivo que, por acréscimos regulares, devia atingir os limites do belo reino de França.

É conveniente assinalar que o pacto real não ligava a França apenas aos seus soberanos. A França está unida com a família de Hugo Capeto, a dinastia capetíngea. E como penhor dessa união, ela deu a essa dinastia augusta o direito de usar o seu próprio nome, passando a chamar-se para sempre a Maison de France.

O desenvolvimento extraordinário que tomou o governo da França — sobretudo a partir do século XVI — e a organização da vida de corte diminuíram a ação direta da família real sobre a França. Ela permaneceu no entanto considerável. Mesmo sob Luís XIV e sob Luís XVI, a França tinha a dirigi-la uma família. Isso é tão verdade que Napoleão não hesitou um instante em caminhar por essa via. Ao subir, elevou consigo todos os Bonapartes. Na Áustria, na Alemanha, na Bélgica, na Inglaterra e ainda em outros países, uma família preside os destinos da nação. Essa família é amada e respeitada como a primeira do país. Ela personifica suas tradições e suas glórias. Sua prosperidade e a do país são uma só. Ela leva consigo as esperanças do futuro. Todos sabem disso e vivem em paz.

——————————

Blanc de Saint-Bonnet afirma: "Quando Aquele que sonda os corações e os reinos escolhe uma família entre todas as outras, a escolha é real e divina. Tal família comprova a escolha (embora tenha a liberdade de recolher ou dissipar seus dons) fornecendo mais legisladores, guerreiros e santos do que as demais famílias nobres, se bem que neste ponto estas já prevaleçam prodigiosamente sobre as outras".4 A obra que ela realiza denota que a mão que a escolheu a sustenta e guia.

__________

4 - Para se convencer disso, no que se refere à santidade, basta percorrer qualquer livro de vidas dos santos. Atendo-se ao Breviário, pode-se perceber — a observação é de Blanc de Saint-Bonnet — que as famílias nobres geraram mais de trinta e sete por cento dos santos, e seis por cento são de famílias reais. Até mesmo no século XVIII, em que a nobreza estava tão decadente, as filhas dos nossos reis eram santas e os seus netos eram heróis.

Admitindo-se que em cada cem famílias uma seja nobre, e que haja uma família principesca em cada duzentas mil, conclui-se com base nos dados acima que as famílias nobres produziram cinqüenta vezes mais santos do que as plebéias, e as casas reais produziram quatrocentas vezes mais santos que as famílias nobres, ou vinte mil vezes mais que as plebéias.

O que são, diante destes fatos, as arengas da democracia, até mesmo cristã, sobre as virtudes do povo e os vícios dos grandes? Os tolos usam as desordens morais de Luís XV como argumento contra a instituição monárquica. Não refletem sobre as seduções que o cercavam, e diante das quais estes mesmos que o censuram não fariam melhor figura. Não meditam também sobre os santos dos quais ele foi o filho e o pai. E nem sequer imaginam a incrível pujança de virtude necessária a uma família para que, mergulhada durante oito séculos no banho dissolvente das maiores prosperidades, não recaísse no egoísmo e ainda produzisse depois de tanto tempo a santidade.

——————————

"Partindo do nada — disse Taine — o rei da França fez um Estado compacto que (no momento em que explode a Revolução) abriga vinte e seis milhões de habitantes, e que é então o mais poderoso da Europa. Durante todo esse tempo ele foi o chefe da defesa pública, o libertador do país contra os estrangeiros.

"Internamente, desde o século XII, com o elmo na cabeça e sempre pelos caminhos, ele é o grande justiceiro, destroça os grupos de malfeitores feudais, reprime os excessos dos fortes, protege os oprimidos, extingue as guerras privadas, estabelece a ordem e a paz. Obra imensa que prossegue, sem cessar, de Luís o Gordo a São Luís, de Filipe o Belo a Carlos VII e Luís XI, de Henrique IV a Luís XIII e Luís XIV.

"Durante esse tempo, todas as obras úteis executadas por sua ordem ou desenvolvidas sob seu patrocínio — estradas, portos, canais, asilos, universidades, academias, estabelecimentos de piedade, de refúgio, de educação, de ciência, de indústria e de comércio — levam a sua marca e o proclamam benfeitor público" (Taine - "L’Ancien Régime", p. 14-15).

Apesar da singular indulgência que mostra para com os homens que derrubaram a realeza, no seu livro "Histoire de la Révolution", Mignet fez a seguinte constatação: "A França foi a obra da dinastia capetíngea, que trabalhou durante sete séculos para o estabelecimento dessa preciosa unidade de território, de espírito, de língua, de governo. É do próprio centro do país que partiu a dinastia capetíngea para essa conquista de união. Paris e Orléans foram seus pontos de partida; o Oceano, os Pirineus, o Mediterrâneo, os Alpes, o Reno, seus pontos de chegada. Mas, mesmo marchando rumo ao seu objetivo de unidade de território e de poder, a dinastia mostrou uma hábil moderação. Ela incorporou as províncias sem as destruir, deixando-lhes os costumes civis sobre os quais repousavam suas existências, e uma parte dos privilégios políticos de que gozavam"5 (Mignet - "Essai sur la Formation Territoriale et Politique de la France").

__________

5 - A propósito do nascimento de Filipe Augusto em 21 de abril de 1165, Luchaire ressaltou a que ponto o sentimento de unidade moral se traduzia, desde essa época, na pessoa do rei. Um estudante parisiense, Pierre Riga, narrou a cena da residência do rei, no local onde hoje se situa o Palácio de Justiça, cercada de palatinos e burgueses que aguardavam ansiosamente o parto da rainha. É um varão! A rainha chora de alegria. A notícia voa de boca em boca, corre de uma extremidade à outra da França com uma rapidez surpreendente, "porque, se bem que os aposentos reais estivessem fechados, alguns impacientes acharam um jeito de olhar por uma fresta e conseguiram ver o recém-nascido". Paris se anima com alegria; as ruas e praças se iluminam, as trombetas soam nas esquinas; os sinos tocam alegremente nas torres das igrejas. Um estudante inglês, o futuro historiador Giraud de Barri, dormia profundamente, quando foi acordado pelos ruídos e luzes da rua.

"Desci do meu leito — escreve ele — corri à janela e vi duas pobres velhas que, levando uma vela acesa cada uma, gesticulavam e corriam como loucas. Perguntei a elas o que estava acontecendo.

— Temos um rei que Deus nos deu — responde uma delas — um magnífico herdeiro real, por cuja mão o vosso rei receberá um dia vergonha e desgraça!"

Luchaire acrescenta: "As populações mais distantes de Paris já tinham esse sentimento — embora tão vago — de unidade moral da França. Elas sentiam que faziam parte de um corpo do qual o rei da França era a cabeça. A correspondência de Luís VII está cheia de testemunhos dessa solidariedade, mais forte que o vínculo feudal".

——————————

Quando se analisa a situação na época do desmembramento do império de Carlos Magno, vêem-se sair do tratado de Verdun três Estados de importância quase igual, formados cada um de elementos díspares, que com o tempo se tornaram a França, a Alemanha e a Itália. Desses três Estados, só a França chegou rapidamente à constituição da sua unidade.

No começo do século XIII, com Filipe Augusto, a França já possui a sua unidade nacional, existe como corpo de nação uno e homogêneo. Ao fim do século XIII, um século e meio antes de Joana d’Arc, Filipe o Belo deu à idéia de pátria uma bela definição. As armas francesas haviam sofrido, a 11 de julho de 1302, o terrível desastre de Courtrai. Dirigindo-se ao clero da França a 29 de agosto, em Paris, Filipe o Belo pinta a situação do país, ao pedir que contribuam com impostos para a defesa da pátria: "Pensai bem — diz o rei aos prelados do seu reino — que se trata dos empreendimentos vossos, de cada um dentre vós, pois cada um dentre vós está concernido. Assim, aplicando todo vosso afeto, todos os vossos esforços à defesa desta pátria que vos viu nascer, dessa pátria pela qual a tradição venerada dos nossos antepassados ensinou que é necessário combater, sobrepondo o amor a ela ao amor dos nossos filhos, nós vos pedimos que nos socorrais com as contribuições mais altas de que possais dispor".

Izoulet, professor do Colégio de França, expôs estes conceitos: "O amor à pátria não é um sentimento simples e superficial, fácil de improvisar. Não se trata de um cogumelo que cresce durante uma noite. É uma planta com raízes profundas e lentas. O amor à pátria é um complexo resultante de componentes obscuros. A pátria mergulha sua tríplice raiz nas profundidades secretas dos costumes terrenos, das piedades domésticas e das emoções religiosas. Deus, o solo e o lar são o seu ingrediente tríplice. A que pode conduzir o patriotismo num povo em que muitos só pensam em abandonar a terra, em destruir o lar e renegar a Deus? Quando a tríplice raiz seca, como poderá não minguar e perecer?"

À Alemanha e Itália, saídas como a França do império carolíngeo, foi necessário chegarem ao fim do século XIX para realizar a unidade (e que unidade!), à qual uma e outra não cessaram de tender, no curso da sua história tão agitada.

Donde vem essa diferença? É que na França foi mais bem obedecida a lei da natureza. Foi a família Capeto, foi a fixidez da dinastia real, fundamentada na lei sálica, que formou e manteve a unidade nacional. Foi graças a esse princípio de hereditariedade, que em nenhuma outra parte se exerceu com tanta continuidade e regularidade, que a realeza francesa pôde adquirir, ao longo dos séculos, condições de força e de duração necessárias à realização da grande obra nacional.6

__________

6 - O fato se reveste de um caráter providencial, que os verdadeiros historiadores não deixaram de assinalar. Foi Deus que permitiu, de acordo com os seus desígnios sobre a França, que nessa grande linhagem capetíngea, na qual não se encontra nenhum príncipe adulterino em mais de três séculos, jamais faltasse o herdeiro direto do trono, de modo que o filho primogênito do rei falecido sucedeu regularmente a seu pai, desde Hugo Capeto a Filipe le Long.

Quando se tornou necessário pela primeira vez, por falta de um herdeiro masculino direto, impedir a subida ao trono de uma mulher — que teria podido, ao se casar, entregar a coroa da França a uma família estrangeira e comprometer a unidade nacional —, bastou constatar a tradição e transformar o fato providencial em lei positiva.

Uma vez bem estabelecido o modo de sucessão, o princípio de hereditariedade funcionou por si mesmo, provendo sempre o trono com um titular e mantendo na dinastia a grande tradição monárquica.

Como bem observou o Pe. Pascal, um dos objetivos principais da missão de Joana d’Arc foi consagrar em Carlos VII, da parte do Céu, este princípio salvador da hereditariedade real: "Gentil príncipe, eu te digo, da parte do meu Senhor, que tu és verdadeiro herdeiro da França. Eu te digo que Deus tem piedade de vós, do vosso reino e do vosso povo".

Nenhum comentário: