Um blog in natura

Amigo Leitor, este blog é escrito ipse litere sem revisão gramatical e de sintaxe. O objetivo de meu blog é escrever in natura, na medida na qual desenvolvo o pensamento, o meu insight primeiro. Após escrever realizo a postagem imediata e não releio mais o artigo e só acesso o blog para a próxima postagem. O Blog é um "diário" e não seria esta a filosofia de um diário? Por este motivo há diferenças, acentuadas, nas versões do artigos aqui postados e os mesmos na Mídia. Aqui não há revisão seja gramatical ou ideológica. Sugiro desta maneira que se detenha no desenvolvimento da linha do pensamento exposto. Comente, debata e opine! Idéias se combatem com Idéias melhores......

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O Partido Católico

No início do século XIX, a idéia da união dos católicos para a defesa a Igreja era uma novidade que encontrava oposição por parte até dos melhores dentre eles. Os bispos e a grande maioria do clero não apoiavam a constituição do Partido Católico, e os leigos viam com indiferença ou amedrontados os esforços de Montalembert para arregimentar o movimento. Era natural que o desânimo começasse a abater o líder, desânimo que se agravou quando uma doença da Condessa de Montalembert o obrigou a se retirar de Paris, procurando na ilha da Madeira um clima mais propício para sua esposa.

Ao se despedir de Veuillot, não pôde Montalembert esconder o seu desânimo à vista da perspectiva, que parecia quase certa, da extinção do Partido durante a temporada que ia passar longe da França. Veuillot tudo fez para animá-lo, mostrando quanto "L’Univers" poderia fazer para mudar o curso das coisas, e prometendo que, se Montalembert não abandonasse a causa e enviasse da Madeira artigos vigorosos para o jornal, ele trabalharia com afinco. Garantiu-lhe que, ao voltar, encontraria um grande partido católico do qual seria o chefe. Concluindo, disse Veuillot: "Eu vos prometo um exército".

Foi o que aconteceu. Tendo iniciado sua colaboração em "L’Univers" com a responsabilidade de uma única seção — "Propos divers" —, Veuillot se tornou desde logo o principal redator do jornal. Seus artigos inflamados, cheios de amor à Igreja e da mais pura ortodoxia, eram acolhidos entusiasticamente, e a França, admirada, via surgir um jornalista exclusivamente católico e um jornal dedicado unicamente à causa da Igreja.

Com Melchior du Lac, cujas dificuldades de família o obrigavam a renunciar às suas aspirações ao sacerdócio, e Eugène Veuillot, que também se convertera, Louis Veuillot reformou completamente "L’Univers", transformando a pequena folha num jornal combativo, vivo e respeitado, que não deixava impune o menor ataque à Igreja. "L’Univers" era o órgão do Partido Católico. À medida que o jornal progredia, crescia o Partido, a adesão do clero se generalizava e as vitórias se sucediam.

Como era de se esperar, a oposição foi também violentíssima, não só por parte dos inimigos da Igreja como também dos católicos "sensatos", que não viam com bons olhos um jornal que a toda hora lhes recordava os deveres.

Cansado de se defender contra os ataques injustos que sofria, e temendo que os colaboradores viessem a desanimar, Veuillot redigiu para eles um programa. Depois de recordar que os redatores de "L’Univers" pertenciam exclusivamente à Igreja e à Pátria, e deveriam obedecer fielmente à Igreja, acrescenta:

"Igreja e Pátria quer dizer submissão amorosa às verdades da Fé; submissão às adoráveis disposições da Providência, mesmo quando pesadas, e principalmente quando parecerem insuportáveis; constância no trabalho que parece inútil; generosidade no sacrifício desconhecido; lealdade no mais vivo combate e contra o inimigo mais desleal; perdão e esquecimento; na derrota e na vitória, devotamento ao adversário vencedor ou vencido, porque ele é menos um adversário que irmão, e foi em seu benefício que se combateu contra ele.

"Sim, obedecer à Igreja contra os nossos desejos e contra os instintos de nossos corações; contra esses instintos ainda, amar os irmãos ingratos; suportar os preconceitos, os rancores e os ódios que existem contra nós; aniquilar até os ressentimentos mais legítimos; suportar não só a injúria e a calúnia dos maus, como também a suspeita e as queixas dos que professam a nossa fé".

Mostrando que a obra de "L’Univers" pertencia à Igreja, e portanto a necessidade que havia de não se afastarem os redatores do caminho que lhes apresentava, continua:

"Pelo fundo e pela forma, estamos fora das condições que ajudam ou entravam, sustentam ou arruínam a imprensa. Vivemos de devotamentos infatigáveis, e por isso não queremos alardear independência, mas é melhor sofrer cem calúnias do que escrever uma palavra claramente injusta. Criticaremos, se necessário, os nossos amigos mais generosos, mesmo que eles venham a nos abandonar.

"Pouco importa que a coluna de sombra e luz que nos guia se dirija, às vezes, para as montanhas intransponíveis, e outras vezes nos apareça sobre as imensas extensões dos mares. O nosso Chefe é Aquele que ordena às águas que se abram e às montanhas que se abatam".

Essa linha de conduta, estabelecida em 1843, foi rigorosamente mantida durante toda a vida de "L’Univers". Muitas vezes Veuillot não era compreendido, e nos primeiros tempos não foram poucas as ocasiões em que Montalembert e mesmo Lacordaire tiveram de intervir em sua defesa, com argumentos que eles mesmos teriam tido grande proveito em reler depois, quando o liberalismo os afastou do grande jornalista.

Em carta a Montalembert, de 21 de julho de 1843, Lacordaire diz: "Estou radiante com tua aproximação com "L’Univers". São pessoas boas e corajosas, e seus excessos de jornalistas são bem difíceis de evitar em uma polêmica quotidiana. Não conhecemos bem isso? Verdadeiramente, sem esse jornal, haveria porventura na França o menor ruído na defesa de nossos direitos?"

Montalembert, em carta a T. Foisset, defende brilhantemente o jornalista:

"Sem dúvida, L’Univers" é bem difícil de dirigir e eu deploro os seus excessos. Não aprovo que ele compare as blasfêmias de Michelet a salsichas dependuradas numa salsicharia. Mas mostre-me nas circunstâncias atuais um jornal católico que tenha o seu valor. Ele fez um grande bem, forçando nossos opressores hipócritas a se desmascararem.

"Quanto aos católicos que o Sr. me cita, eis o que penso deles. São os nossos piores inimigos, mil vezes mais perigosos e odiosos que os filósofos e os liberaloides: estes não querem senão nos oprimir e nos amordaçar; aqueles nos desonram. Eles venderiam uma a uma nossas liberdades em troca de um aperto de mão do Sr. Saint Marc Girardin. Há muito tempo nós nos deixamos enganar por sua covardia e trair por seu servilismo. Há muito tempo, por um vergonhoso silêncio, entregamos aos dentes de nossos inimigos o que mais nos importava defender e glorificar do nosso passado. É preciso acabar com isso, e entrar novamente na posse do que nos pertence.

"Se depois da revolução ganhamos alguma coisa — refleti, eu vos peço —, a quem o devemos? Aos prudentes, aos tímidos, aos homens de transação, à escola cuja mais alta e mais nobre personificação é certamente Monsenhor Frayssinous? Não, certamente. É aos bravos, às coragens altaneiras, aos loucos, como chamavam ao Conde de Maistre e ao Padre de Lamennais. Eis os homens que fizeram o que somos".

O Partido Católico estava formado, e a união entre seus chefes era a mais perfeita possível. Ele se lançará à luta contra o monopólio do ensino e conseguirá a maior manifestação de força e fé do Catolicismo no século XIX.

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