Um blog in natura

Amigo Leitor, este blog é escrito ipse litere sem revisão gramatical e de sintaxe. O objetivo de meu blog é escrever in natura, na medida na qual desenvolvo o pensamento, o meu insight primeiro. Após escrever realizo a postagem imediata e não releio mais o artigo e só acesso o blog para a próxima postagem. O Blog é um "diário" e não seria esta a filosofia de um diário? Por este motivo há diferenças, acentuadas, nas versões do artigos aqui postados e os mesmos na Mídia. Aqui não há revisão seja gramatical ou ideológica. Sugiro desta maneira que se detenha no desenvolvimento da linha do pensamento exposto. Comente, debata e opine! Idéias se combatem com Idéias melhores......

terça-feira, 25 de maio de 2010

“Principium vitae", alma da organicidade.

atenas-democracia No modo de administrar um país, a massa corresponde à burocracia e é anorgânica. O povo, pelo contrário, corresponde a uma espécie de autonomia e de governo que, de certo modo, vem de baixo para cima, mais do que de cima para baixo. Corresponde a um self-government, um governo que provém do próprio governado, e pelo qual o governado se governa a si mesmo. Usando dessa sua liberdade, há uma circunstância qualquer que o encaixa bem com os outros, e forma então um total que se pode considerar como uma primeira semente de povo.

O problema democracia-aristocracia está ligado a isso. Dentro do conceito de democracia existe a idéia do sufrágio popular para a eleição e o exercício do governo. Seria um governo de baixo para cima, que se exprime por uma opinião explícita, individual, e que vai ser objeto de contagem para avaliação de seu peso. São estes os três elementos da opinião, dentro desse conceito de democracia. A opinião seria individual no sentido de que cada indivíduo forma sua opinião com seus próprios dados, sendo distinta da opinião do outro.

A sociedade orgânica é o contrário disso. A opinião não é necessariamente explícita, pode perfeitamente não ser explícita. Por uma tendência, uma afinidade, uma conaturalidade, etc, a pessoa pode validamente pesar em favor da sociedade orgânica ou de outra coisa qualquer, sem saber por quê. É como, por exemplo, na opção dos próprios amigos. Uma pessoa muitas vezes não sabe por que escolheu fulano como amigo e não sicrano, e não sabe dizer por que é amigo daquele e não do outro. Mas não precisa mesmo saber. Muitas vezes é um movimento, é um impulso, mas que corresponde a coisas razoáveis, profundas e legítimas.

Considerar que o pronunciamento das pessoas — numa sociedade em que há uma parcela da função governamental vinda de baixo para cima — se decide por contagem, é coerente na lógica do erro deles. Mas não é razoável na ordem da representação orgânica, instintiva, etc, em que não há uma definição tão clara da atitude que possa ser reduzida a um número. Tudo isso pesa na avaliação da forma de manifestar-se — não da massa —, de maneira a ter o seu peso específico na direção geral das coisas.

Definido o que é organicidade, o que ela tem de mais interno, de mais autônomo e de mais livre, mas ao mesmo tempo de mais limitado — porque ela mesma não sabe bem como exprimir-se —, compreende-se o que é o mais profundo da sociedade orgânica.

Organicidade é propriamente o que se chama vida. O principium vitae, pelo qual a pessoa ou o ser não-pessoal se expande, é o que os diferencia. Vamos considerar a margarida, uma flor muito comum, e imaginemos um canteiro plantado com duzentas margaridas. Todas são margaridas, mas cada uma o é à sua maneira. Qual é o princípio que há em cada uma, pelo qual ela é margarida em todos os sentidos da palavra, mas a seu modo? Este princípio é a vida. A vida, em tudo onde se manifesta, é um princípio criado por Deus, de uma realidade misteriosa que não chegamos a discernir até o fundo, porque é superior ao nosso intelecto.

Aí está a derrota do sufrágio universal. Pois cada eleitor, cada votante, vota movido por um princípio superior ao intelecto dele. Ele nunca pode dar-se conta inteiramente do que o leva a fazer determinada coisa. É a vida nele que faz a adequação das coisas. É um princípio que está situado — se é que se pode dizer situado — difusamente em todo o ser, mas ao mesmo tempo tem um unum. É vário porque entra pelo ser inteiro e toma modalidades diferentes nas várias partes do ser, nas várias pétalas da margarida. Mas tem unum. Cada margarida tem o seu princípio unum.

Esse princípio é um pequeno universo de várias tendências, apetências, impulsos, inclinações, que são — eu estou imaginando a flor no Paraíso — perfeitas na sua estruturação e tendem para uma floração perfeita. Mas em cada parte da flor que, por assim dizer, a vida toca, produz um efeito que é o resultado de uma soma: é a pétala mais a vida. Como as pétalas são todas desiguais, a vida entrando na pétala se amolda ao modo de ser da pétala e, por assim dizer, se deixa vestir pela pétala. Em sentido oposto, também é verdade que a pétala, sob certo ponto de vista, é mais do que a vida, tem algo por onde reage ao impulso da vida e obriga a vida a ser como ela é.

Desta coligação "pétala-vida, vida-pétala" decorre uma unidade interna. Mas uma unidade na variedade, porque a unidade está no que a pétala tem de unum e no que a vida tem de unum. Na conjugação das duas sai um ser vário e diferente de todos os outros. Então: pétala + vida = uma margarida em concreto.

Aí o elemento mais interno, por assim dizer a "alma" da margarida, é no fundo mais importante, e vai modelando a pétala e faz com que toda a margarida seja tocada pelas peculiaridades dessa "alma". Mas aquilo da "alma" que toca na margarida sofre uma modelação, semelhante à de uma massa de bolo que uma cozinheira prepara e derrama numa forma com a forma com a forma de uma margarida. Quando a massa entra, é modelada pela forma, mas de outro lado a forma também sofre pressões. Primeiro a forma sofre pressões e se dilata um pouco, se ajeita um pouco de acordo com a massa que recebeu. De outro lado é a massa que, em contato com a forma, sofre outras formas de dilatação, de pressão, etc. De onde resulta um bolo em concreto, uma margarida em concreto.

Isto é propriamente a organicidade — um princípio vital posto em harmonia. Em filosofia, como se sabe, os seres vivos têm o que se chama alma.

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